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In the Media | September 2013

Brasil não deve mais recorrer à ajuda do câmbio para controlar inflação, diz Nelson Barbosa

Lucianne Carneiro
Ex-secretário executivo da Fazenda acredita que governo pode trazer a taxa para o centro da meta, de 4,5%, até 2015

O Globo Economia, 26 Setembro 2013. © 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A.

RIO – Na primeira aparição pública no Brasil desde que deixou o governo, o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda e hoje professor da UFRJ, Nelson Barbosa Filho, afirmou que não existe mais espaço para apreciar o câmbio de maneira a ajudar no controle da inflação. O câmbio se apreciou demais nos últimos anos, segundo ele, e é preciso atingir a meta de inflação mesmo num cenário de taxa de câmbio estável ou até mesmo de depreciação. 

- Todos os anos em que o Brasil cumpriu a meta da inflação, a taxa de câmbio se apreciou, com exceção do ano passado. O ajuste já começou. Estamos numa fase da economia brasileira de cumprir a meta de inflação sem depender tanto da apreciação cambial. Só que aí fica mais difícil a inflação cair mais rápido - disse Barbosa, ao participar do seminário "Governança Financeira depois da Crise", promovido pelo Minds, Instituto Multidisciplinar de Desenvolvimento e Estratégia, em parceria com o Levy Economics Institute e a Fundação Ford. 

Sua avaliação é que o cenário com que o governo trabalha de trazer a inflação para 4,5% ao ano, que é o centro da meta, até 2015, é possível. O que vai influenciar esse resultado é a desvalorização cambial e a magnitude de um eventual aumento nos preços de combustíveis. Para Barbosa, a discussão sobre a necessidade de reduzir a atual meta da inflação brasileira só deve ocorrer depois que a taxa for mantida em 4,5% por um ou dois anos. 

O governo vai trazer a inflação para 4,5% mas talvez leve um pouco mais de tempo porque houve esses choques recentemente. O principal esforço para isso é o aumento da produtividade - apontou. 

Barbosa defendeu a manutenção do câmbio flutuante no país, lembrando que tanto depreciação quanto apreciação cambial excessiva têm consequências para a economia. A depreciação pressiona a inflação, enquanto a apreciação ajuda no cumprimento mais rápido da meta de inflação, mas prejudica a longo prazo a competitividade da economia. 

Para o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, o câmbio ideal no momento deve variar entre R$ 2,20 e R$ 2,50, embora destaque que essa taxa de câmbio ideal para a economia está em constante mudança:

- Um câmbio muito apreciado ou muito depreciado é ruim para a economia. Ir para muito abaixo de R$ 2,20 neste momento não é muito recomendável, assim como ficar acima de R$ 2,50 seria muito excessivo comparado com o que aconteceu com outros países.

O economista, que deixou o governo em junho, disse que embora o país não tenha uma meta de taxa de câmbio, a oscilação cambial tem sido controlada por causa da meta de inflação. Quando a taxa de câmbio é elevada, a inflação também tende a ser elevada. Se a taxa de câmbio é mais baixa, a tendência é de uma inflação menor. 

Barbosa explicou que existem três alternativas teóricas para reduzir o custo unitário do trabalho e aumentar a competitvidade. A primeira é uma desvalorização interna, com desaceleração do crescimento econômico e redução de salário. A segunda é uma desvalorização externa, com elevação da taxa de câmbio. A terceira é por aumento de produtividade. 

- Na prática, o ajuste acontece nas três coisas. Na Europa, tem sido um pouco no salário. No Brasil, o que o governo tem tentado fazer é que seja mais na produtividade, para que seja menos via câmbio e desemprego - disse.

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